segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Numa reunião de pais, como de costume, falei de tudo aquilo que era suposto falar… Os momentos que antecederam esta reunião, como sempre, foram uma parafernália de emoções. Primeiro: rever a ordem de trabalhos, vezes e vezes sem conta. Depois verificar se não falta nenhum documento, também vezes e vezes sem conta. Para a seguir pensar que tanta preocupação é desnecessária, porque preparámos tudo com cuidado e atenção. Mas na realidade a preocupação que nos sombreia os últimos minutos de descanso, antes da reunião, são na verdade porque os professores também questionam “será que vão gostar de mim?”… Pelo menos eu questiono-me. Realmente importa-me que, para além de cada um dos meus alunos, os pais e encarregados de educação gostem de mim. Que lhes seja fácil perceber que estou com os seus filhos de alma e coração. Que partilho conhecimentos, sensações, aprendizagens, tudo o que houver para partilhar com cada um deles. Para mim, ensinar não faz sentido de outra forma.

Mas não é sobre isto que vos queria falar…

Enquanto falava da assiduidade, relembrando que as faltas de material e de pontualidade podem resultar em faltas de presença injustificadas, um dos pais mostrou a sua indignação face aos limites de cada tipo de falta. Porquê? Porque é que são tão pequenos? A minha resposta foi simples. Porque a obrigação da criança é ir à escola e fazer bem o seu papel, o de aluno. E a obrigação de cada pai é garantir que cada criança cumpre o seu papel com o mesmo brio, como aquele que tem no desempenho das suas funções profissionais. Mas, o pai não ficou satisfeito com a minha resposta. Voltou a dizer que realmente achava que deveria haver mais benevolência com as crianças, que são tão imaturas. Aí, sorri-lhe a ele e aos restantes, pedi-lhes que entendessem que não estava a querer ensinar ninguém a ser mãe ou pai. Porque cada um dos meus meninos (alunos de 5º ano, alguns com bem mais do que dez anos) tem a melhor mãe e o melhor pai que podia ter. – Cada um de nós é a melhor mãe e o melhor pai dos nossos filhos e temos de acreditar nisso sempre, não importa o que houver! – Mas precisava que me acompanhassem num exercício: recuassem no tempo e se imaginassem na idade dos seus filhos. Tínhamos muita liberdade. Verdade. Contudo, tínhamos também muita, muita responsabilidade. Ficávamos tempo e tempos na rua, mas à hora marcada estávamos em casa. Íamos às compras, despejávamos o lixo, passeávamos o cão, arrumávamos o quarto e até íamos pagar a água ou a luz. «E sem telemóvel!» Acrescentou uma mãe. Verdade, sem telemóvel. Durante um ou dois minutos vi aqueles pais, em silêncio, pensativos e acenando com a cabeça. Queremos tanto proteger os nossos filhos que em vez que os ajudarmos a crescer estamos, inconscientemente, a prolongar a imaturidade daqueles que para nós – lá no fundo dos nossos corações – serão sempre os nossos bebés. Aqueles seres sapientes que, mesmo antes de ganharmos a verdadeira consciência do que é ser mãe ou pai, já carregavam consigo a responsabilidade de ser filho.