Numa reunião de pais, como de costume, falei de tudo aquilo
que era suposto falar… Os momentos que antecederam esta reunião, como sempre,
foram uma parafernália de emoções. Primeiro: rever a ordem de trabalhos, vezes
e vezes sem conta. Depois verificar se não falta nenhum documento, também vezes
e vezes sem conta. Para a seguir pensar que tanta preocupação é desnecessária,
porque preparámos tudo com cuidado e atenção. Mas na realidade a preocupação
que nos sombreia os últimos minutos de descanso, antes da reunião, são na
verdade porque os professores também questionam “será que vão gostar de mim?”…
Pelo menos eu questiono-me. Realmente importa-me que, para além de cada um dos
meus alunos, os pais e encarregados de educação gostem de mim. Que lhes seja
fácil perceber que estou com os seus filhos de alma e coração. Que partilho conhecimentos,
sensações, aprendizagens, tudo o que houver para partilhar com cada um deles.
Para mim, ensinar não faz sentido de outra forma.
Mas não é sobre isto que vos queria falar…
Enquanto falava da assiduidade, relembrando que as
faltas de material e de pontualidade podem resultar em faltas de presença
injustificadas, um dos pais mostrou a sua indignação face aos limites de cada
tipo de falta. Porquê? Porque é que são tão pequenos? A minha resposta foi
simples. Porque a obrigação da criança é ir à escola e fazer bem o seu papel, o
de aluno. E a obrigação de cada pai é garantir que cada criança cumpre o seu
papel com o mesmo brio, como aquele que tem no desempenho das suas funções
profissionais. Mas, o pai não ficou satisfeito com a minha resposta. Voltou a
dizer que realmente achava que deveria haver mais benevolência com as crianças,
que são tão imaturas. Aí, sorri-lhe a ele e aos restantes, pedi-lhes que
entendessem que não estava a querer ensinar ninguém a ser mãe ou pai. Porque
cada um dos meus meninos (alunos de 5º ano, alguns com bem mais do que dez
anos) tem a melhor mãe e o melhor pai que podia ter. – Cada um de nós é a
melhor mãe e o melhor pai dos nossos filhos e temos de acreditar nisso sempre,
não importa o que houver! – Mas precisava que me acompanhassem num exercício:
recuassem no tempo e se imaginassem na idade dos seus filhos. Tínhamos muita liberdade.
Verdade. Contudo, tínhamos também muita, muita responsabilidade. Ficávamos tempo e tempos na rua, mas à hora marcada estávamos em casa. Íamos às
compras, despejávamos o lixo, passeávamos o cão, arrumávamos o quarto e até
íamos pagar a água ou a luz. «E sem telemóvel!» Acrescentou uma mãe. Verdade,
sem telemóvel. Durante um ou dois minutos vi aqueles pais, em silêncio,
pensativos e acenando com a cabeça. Queremos
tanto proteger os nossos filhos que em vez que os ajudarmos a crescer estamos, inconscientemente,
a prolongar a imaturidade daqueles que para nós – lá no fundo dos nossos
corações – serão sempre os nossos bebés. Aqueles seres sapientes que, mesmo
antes de ganharmos a verdadeira consciência do que é ser mãe ou pai, já carregavam
consigo a responsabilidade de ser filho.
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